quinta-feira, 12 de setembro de 2013

NOSSO LEGADO HISTÓRICO ANTIGO E RECENTE - SANTA MARIA DE BELÉM DO GRÃO-PARÁ


O CONTRASTE ARQUITETÔNICO DO ANTIGO COM O PASSADO RECENTE E OS ECOS DA MEMÓRIA COLETIVA

Belém-Pará

Prédios da antiga "Port of Pará", hoje Companhia das Docas do Pará (inicio do Sec XX) e do Ministério da Fazenda (1973).



        Uma cidade secular detém características e oportunidades de retratar para a posteridade as múltiplas faces de sua história.

     Cada estilo arquitetônico retrata e conta as diversas épocas a que se vincula, independente das opiniões, dos gostos e das posições cristalizadas sobre a legitimidade ou não de certos estilos. 

       No futuro longínquo, mesmo um estilo que causou rejeição ou até uma apontada descaracterização parcial de um local, comporta em si o retrato de sua respectiva época, dos modos de vida e de pensar, ainda que cicatriz seja.

  Prédio do "París n'América" em contraste com os edifícios surgidos na década de 1970
Fonte da imagem:


      Nossa verdadeira história não está restrita às influências preponderantes e embora tenhamos, na arquitetura, no gosto e nas opiniões, forte europeização, o que nos é próprio sempre será o somatório e a mescla de tudo isso.

      Do jeito que temos esse rico legado arquitetônico, tivemos também, ao longo do tempo, outras múltiplas influências locais que não podem ser reduzidas em sua importância, apenas pelo fato de não terem sido produzidas pela cultura dominante ou mesmo serem, cronologicamente, mais recentes.

  Se não compreendermos isso estaremos contribuindo para amputar parte de nossa verdadeira história, que hoje pode até ser mais recente, numa atitude que no futuro será traduzida e interpretada como uma forma de "barbárie", ainda que se pense estar apenas defendendo um legado mais anterior por reputá-lo mais importante.




     Deve-se, sim, lutar e reagir contra intervenções que agridam o legado arquitetônico de uma cidade rica em sua história, mas os arranhões trazidos por atitudes passadas, nesse mesmo legado, também contam uma parte da história, da cultura e do pensamento da sua respectiva época e por isso têm que ser olhados como partes inseparáveis da trajetória histórica que a comunidade vivenciou, ainda que para servir de exemplo à posteridade, como "cicatrizes" ou "feridas" do que não se deve repetir.

      Por outro lado, penso que algumas restaurações, mesmo que vistosas e até esteticamente bonitas, podem ter efeitos deletérios muito piores do que o abandono e a destruição, pois, nalguns casos, transformam-se em ,verdadeiras, caricaturas do que foram. Belas, mas inertes por nada contarem sobre o que, realmente, significam para a memória do lugar.

      Tudo o que não pode acontecer é a transformação de uma área de rico conteúdo histórico-cultural, numa espécie de "parque temático", com mais jeitão de "Disneylândia". Essa deve ser uma preocupação recorrente e inafastável em todas as discussões sobre revitalização de imóveis históricos.

    Lembro bem, por ocasião do projeto de restauração da cidade alemã de Dresden, quase varrida do mapa naquele fatídico ataque aliado, em fevereiro de 1945, o quanto se discutiu sobre a validade da reconstrução de algo que nem mais existia, embora, fartamente documentado por fotografias e o temor era, exatamente, o de se criar uma espécie de "parque temático", um quase "falso histórico" mesmo. Mas, prevaleceu a vontade da reconstrução que foi levada a termo com a ajuda de quase todos os países da Europa.

            Finalmente, penso que além da restauração do valioso patrimônio arquitetônico, há premente necessidade de se recuperar, também, a história viva relacionada aos imóveis antigos, mediante um trabalho meticuloso documental que inclua a captura de depoimentos das pessoas. 

         Uma espécie de captura dos ECOS DA MEMÓRIA COLETIVA, contidos nas lembranças de pessoas sobre fatos e lugares, mediante relatos de acontecimentos, muitos dos quais terão a condição de verdadeiros testemunhos da chamada "História Oral".  

            Essa história de múltiplos cotidianos, imersa em um "oceano de memórias" e de acervos particulares e até de domínio coletivo que   guardam lembranças de um passado recente ou distante, configura, também, uma tentativa de recuperar e registrar fragmentos e experiências que, por estarem preservados apenas na memória das pessoas, diariamente são perdidos em cada uma das que nos deixam para sempre.

          Essas inúmeras "Chaves do passado e da história real", podem, muitas vezes, estar perto de nós ou de nossos amigos e colegas. Podem estar nas lembranças de nossos avós, tios e primos de gerações anteriores. Mas, também, estão na memória de cada ancião que vemos nas ruas e nos lugares coletivos e até nos abrigos de idosos. 

          No entanto, tais "tesouros do passado" estão sendo, irremediavelmente, perdidos a cada dia de solidão de pessoas de idade avançada que, não raras vezes, confinadas mais psicológica do que fisicamente,  impõem-se um silêncio cada vez mais presente, apenas pela absoluta ausência de quem deles queira ouvir a fala de suas memórias.

             Cabe, portanto, a nós a inarredável responsabilidade de sermos os ouvidos e as vozes que legarão à posteridade uma parte de um mundo passado que se extingue a cada dia.

Aurelino Santos Jr






Chácara Bem-Bom (Palacete Faciola) (1916)

 Palácios Antônio Lemos e Lauro Sodré
 Doca do Ver-o-Peso e Forte do Castelo, antigo Forte do Presépio, local de fundação da cidade.




 Palácio Antônio Lemos e Museu de Arte de Belém (MABE)








Mercado Bolonha























   Praça do Pescador, ao lado do Ver-o-Peso


 Centro Comercial antigo


Catedral da Sé 


Casa das 11 Janelas



Igreja de Santo Alexandre

Mercado de São Braz
Igreja da Sé (Catedral Metropolitana)
Arcada interna do Conjunto dos Mercedários.



 Fachada do Conjunto dos Mercedários

Imóveis ao largo das docas do Ver-o-Peso
 Praça da República
  Solar do Barão de Guajará - Sede do Instituto Histórico e Geográfico do Pará