quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PARIS 1869 - PLANO MORAES - A NAVEGAÇÃO INTERIOR DO BRASIL

            NAVEGAÇÃO INTERIOR DO BRASIL





Eduardo José de Moraes, engenheiro, matemático, físico, geógrafo, oficial do corpo de bombeiros e mais tarde general de brigada - Século XIX

 - RESGASTE DE UMA OBRA INAPROVEITADA PELOS GOVERNOS QUE SUCEDERAM A MONARQUIA, QUE TERIA SIDO FUNDAMENTAL PARA QUE O NOSSO PARÁ TIVESSE SE TRANSFORMADO NA ESTRELA MAIS PRÓSPERA DA NAÇÃO, PELO APROVEITAMENTO DA SUA POSIÇÃO ESTRATÉGICA NO CONTINENTE.

           A obra referida constitui um mapeamento completo do aproveitamento da enorme vantagem logística que o Brasil dispõe nas suas diversas bacias hidrográficas, com a interligação de rotas e a sua integração com outros tipos de transporte, notadamente, o ferroviário.

   A"NAVEGAÇÃO INTERIOR DO BRASIL" foi apresentada, em grande estilo, na Paris-FR, no ano de 1869, tendo sido fruto de um estudo encomendado diretamente pelo Imperador Dom Pedro II.

       Nessa obra há especial referência à então "Província do Gram-Pará", que se implantadas fossem as propostas de interligação hidroviária do Brasil, passaria da condição de unidade mais pobre à mais próspera do Império.

    Apontava, Moraes, em sua magistral obra, que todas as saídas estratégicas hidroviárias do continente, em direção ao Atlântico Norte, passariam pelo Pará, seja em direção à desembocadura do Rio Amazonas ou ao Caribe, esta via Canal do Cassiquiari, ligação natural entre a Bacia Amazônica e a do rio Orinoco, na Venezuela.

        Se a obra de Moraes tivesse sido aproveitada pelos governos da época, a área do entorno de Belém teria se transformado no ponto mais estratégico do continente, como entreposto de entrada e saída entre o Atlântico e todos os países da América latina, inclusive a distante Argentina que teria maiores vantagens na opção da navegação interior no continente, do que na via costeira, pela envergadura natural da costa brasileira.

       No excelente trabalho da ANTAQ, de 2007, denominado "NAVEGAÇÃO INTERIOR E INTEGRAÇÃO NA AMERICA LATINA", assinado pelo então superintendente JOSÉ ALEX BOTÊLHO DE OLIVA, há referência ao "PLANO MORAES", com a juntada de uma mapa, onde não aparece a via do Cassiquiare. 


       No entanto, a menção ao Cassiquiari, já é feita pelo trabalho de Moraes, que apontava que seria possível sair da Argentina, pelos Rios da Plata, Paraguai, Guaporé, Madeira ou Tapajós, atingindo o Amazonas- Rio Negro - Canal do Cassiquiare, Rio Orinoco e Mar do Caribe.

      Mas as limitações de profundidade do Canal do Cassiquiare, remeteriam à área do entorno Belém (incluída Barcarena) a vocação de entreposto continental.

FAC SIMILE

Trecho da obra de Moraes, reproduzindo a fala de D. Romualdo de Seixas:

"Em 1826, isto é, quatro anos após a emancipação politica do Brasil, erguia-se já, no seio de sua representação nacional, uma voz eloquente a favor da navegação de nossos grandes rios.
Experimentamos um sentimento de bem entendido orgulho, reproduzindo aqui o notavel discurso pronunciado na sessão de 12 de Junho do referido anno, pelo então deputado Romualdo Antonio de Seixas, fallecido arcebispo da Bahia e Marquez de Santa Cruz.


« Todas as nações cultas e policiadas, dizia o sabio e virtuoso prelado, têm olhado como um dos primeiros objectos dos seus cuidados e da sua vigilancia, a navegação dos rios, a abertura de estradas e canaes, que facilitão a mais prompta communicação entre os differentes pontos da superricie dos stais Estados: todos esses vehiculos e meios de communicação são como vêas, que fazem circular o sangue, e os espiritos vitaes da cabeça ás extremidades, e das extremidades á cabeça do corpo politico; é por este modo que a acção e a*energia do governo, se propaga rapidamente por toda a circumferencia de um grande imperio, onde a unidade politica será tanto mais solida e duravel, quanto as relações das suas provincias com o centro do governo forem mais prometas e menos difficeis."


         Se olharmos nossa posição geográfica, constataremos que todas as rotas estratégicas fluviais desembocam na região do Pará, que se constitui da desembocadura do grande Rio Amazonas, estendendo-se essa condição, de ponto estratégico, até o chamado Baixo Amazonas. 

Uma só área que integra um grande portal de entrada e saída de todo o continente sul americano.

          Portal ainda inaproveitado, em toda a sua potencialidade. Mas se for aproveitado, não seria apenas o Pará a se desenvolver e sim o Brasil como um todo.

           Essa posição geográfica, privilegiadíssima e inaproveitada, constitui uma chance quase única do Brasil em se afirmar no cenário internacional, como uma grande e próspera nação e isso já era apontado, desde o século XIX, nessa magistral obra de Eduardo José de Moraes: "A Navegação Interior do Brasil", apresentada em Paris-FR, no ano de 1869.

       E essa riqueza, até a agora inaproveitada, que é a nossa posição geográfica estratégica, supera em muito os recursos minerais, notadamente, pelo seu modelo de exploração, altamente concentrador de renda.

           Não há melhor saída para o Brasil que não seja a integração pela via Norte. "A vez é do Norte e a vez do Norte, representa a vez do próprio Brasil". Ou o Brasil aproveita essa enorme vantagem geográfica ou perderá competitividade, tragado pela burocracia e pelo seu pesadíssimo "custo Brasil", investindo, erroneamente, em áreas de pouca vocação geoeconômica. Ou seja, gastando muito mais combustível para decolar e manter no ar verdadeiros "Pássaros de Chumbo", movidos a bilhões em investimentos, renúncias fiscais e divisas desperdiçadas.

       Quando o brasileiro Eduardo Moraes apresentou o seu "Navegação Interior do Brasil", na Paris de 1869, o fez, em razão daquela metrópole ser uma espécie de "Meca Mundial" e foi por esse motivo que Santos Dumont lá realizou o voo histórico com o seu "14 BIS". Tudo o que acontecia em Paris repercutia no mundo ocidental.

         Em 2011 abordei essa história em uma reunião da ABMP-Associação Brasileira de Municípios Portuários, realizada em Itajaí-SC, após uma apresentação sobre o aproveitamento da geografia da Europa, que utiliza, intensamente, seus muitos rios, inclusive interligando-os, com a construção de canais e com isso aproveitando ao máximo a considerável redução de custos que o transporte hidroviário proporciona, com a retirada de caminhões das estradas. Ousei apontar que, talvez os europeus tenham prestado atenção ao trabalho do brasileiro Moraes, que apontava essa vantagem estratégica da Europa. Aí alguém do público disse: "Santo da casa não faz milagre", pois os estudos de Moraes até agora não foram levados em conta pelos governos que sucederam o Império.

        Na verdade, o continente europeu sempre utilizou a vantagem geográfica de rios que atravessam várias regiões e isso desde o Império Romano e Moraes em seus estudos refere isso ao pensar em integração geográfica do então Império Brasileiro.

         Gastar 40% do custo de transporte da soja do Centro-Oeste, somente para levá-la até os portos de Santos-SP e Paranaguá-PR, via rodoviária e em trens obsoletos, semelhantes aos que os americanos usavam há 200 anos, faz-nos concorrer no mercado internacional com a água até o pescoço, mesmo que até a porteira nossa produtividade supere em 11% a da soja americana.

Vídeos sobre o assunto soja - 






 SOBRE A OBRA DE EDUARDO JOSÉ DE MORAES


           A primeira parte da obra de Eduardo José de Moraes foi objeto de publicação, em 1869, sendo que no ano de 1894, houve a sua reedição com a obra completa.  


              A publicação de 1869, não a encontrei em nenhuma biblioteca brasileira, disponível em meio digital, tendo obtido no formato e-book, digitalizada pelo Google, da Biblioteca da Universidade de Stanford*, nos Estados Unidos.


* Sítio traduzido pelo Google da Stanford University 
http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.stanford.edu/&ei=Ra3tTqjlEcrfggfNn9HsCA&sa=X&oi=translate&ct=result&resnum=1&sqi=2&ved=0CEsQ7gEwAA&prev=/search%3Fq%3Dstanford%26hl%3Dpt-BR%26biw%3D1366%26bih%3D667%26prmd%3Dimvns
      


             Mais recentemente, localizei a edição de 1894, que compreende as partes primeira e segunda do trabalho, aditadas com comentários do autor sobre as referências da imprensa à edição de 1869, no capítulo denominado de: "AO LEITOR".  Essa edição está disponível em formato PDF, digitalizada a imagem original, na Biblioteca do Senado*.


* Sítio da Biblioteca do Senado: http://www.senado.gov.br/biblioteca/



OBRA HISTÓRICA DIGITALIZADA:

AO LEITOR DA 1ª EDIÇÃO DA OBRA DE EDUARDO JOSÉ DE MORAES, DE 1869, "NAVEGAÇÃO INTERIOR DO BRASIL", INTEGRANTE DA SEGUNDA EDIÇÃO, DE 1894.


Fonte da 1ª Edição: Biblioteca de Stanford


Fonte da 2ª Edição: Bibl
ioteca da USP


FAC-SÍMILE DA CARTA AO LEITOR:





















Aurelino Santos Jr


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UMA NOVA SAÍDA PARA BELÉM - PONTE DO COMBU

SANTA MARIA DE BELÉM DO GRÃO-PARÁ



UMA NOVA SAÍDA PARA BELÉM

Já se disse, no passado, que a cidade de Belém é como se fosse um "saco" que enche durante o dia e esvazia à noite.  A frase foi de um engenheiro, que me falha o nome, e fazia referência ao transito entre as suas áreas periféricas e o centro, pois Belém enche de carros durante o dia e esvazia à noite.

A Grande Belém

Devemos pensar Belém, não apenas como uma cidade de quase um milhão e quatrocentos mil habitantes, mas como uma conurbação e um conglomerado urbano (considerada a sua área geográfica mais próxima de influência), no qual há intensa mobilidade de pessoas, mercadorias e serviços. Um verdadeiro organismo vivo, onde uma intervenção num ponto repercute fortemente noutro ponto.

Esse rio é minha rua - Esse rio é minha vida

Outra característica que reputo ímpar, dentre todas as cidades brasileiras de porte similar, é a sua inter-relação com o rio. Sim, pois se observarmos bem, veremos que Belém é uma passagem quase obrigatória das regiões sul e nordeste do Estado (ligadas por via rodoviária) para os municípios que se comunicam pela via fluvial.  Sem falar que o seu próprio território e os dos municípios no seu entorno, são, preponderantemente, constituídos de área insular. A própria Belém tem mais áreas de ilhas do que continental.

Essa característica de inter-ligação rodo-fluvial, não ocorre com a mesma intensidade em nenhuma cidade de outras regiões brasileiras, pois é típica de cidades da Amazônia.  E mesmo na Amazônia só ocorre, nesta escala, quero dizer, envolvendo o deslocamento de populações que ultrapassam a casa dos três milhões, no conglomerado de Belém.

Todas as cidades da Amazônia têm essas características, mas somente em Belém ocorre em alta escala, sendo em menor intensidade em Manaus, que embora mais populosa que Belém, se compararmos apenas os habitantes do município, detém 80% da população de todo o Estado do Amazonas, enquanto que Belém tem, apenas, cerca de 28% da população do Pará. Nas demais cidades, essa inter-relação com o fluvial, ocorre em menor escala. Portanto, Belém é ímpar, neste aspecto, e como tal deveria ser tratada pelas políticas públicas.

O primeiro passo, é reconhecer essa singularidade de Belém, onde a melhor tradução consiste na bela poesia musical da expressão: "esse rio é minha rua", legado pelo nossos "Barata", pai e filho*. E, neste ponto, os elos de circulação entre as "ruas fluviais" e as terrestres, são os nossos múltiplos portos, de todos os tamanhos, onde, diariamente, fluem as pessoas e mercadorias, num ir-e-vir, constante, de intensidade tal, que  nenhum estudo e estatísticas conhecidos capturaram seus reais números e  dimensões.

Essa relação rio-porto-cidade-estrada, mereceria, por parte dos urbanistas e outros estudiosos, um olhar especial sobre suas peculiaridades, a partir da conclusão de que, nestas paragens o urbano é completamente diferenciado. 

Todas as cidades do mundo interagem com seu entorno, com maior ou menor intensidade, como uma teia em constante movimentação, mas, com estas características entre o meio fluvial e terrestre, poucas, no mundo, são como Belém e com tendência a se intensificar, com o aumento natural das populações.


*Paulo André e Ruy Paranatinga BarataEsse rio é minha rua - 



BELÉM É COMO UMA ILHA, COM UMA ÚNICA PONTE CHAMADA BR-316
    Projeto do Governo do Estado para desafogar o transito de Belém

                                
              Voltando à concepção do "saco" que enche e esvazia, se olharmos a geografia da cidade de Belém, perceberemos que a Rodovia BR-316 funciona como uma verdadeira ponte, único corredor de tráfego para entrada e saída da área de Belém.



              Tudo depende dessa rodovia e até o acesso à Alça Viária dela depende. Na imagem acima, há indicação de dois projetos de vias expressas, norte e sul, uma ligando a área do porto de Outeiro (antiga Sotave) à rodovia BR-316 e outra ligando a área da Av. Perimetral (próximo à UFPª), à Alça Viária, alcançando, também, a BR-316.        
                           

(Foto: Antônio Cícero/Diário do Pará)

                    No entanto, mesmo com essas alternativas, Belém continuaria com característica de região ilhada, ou, sem exagero, "encurralada",  dispondo de um único corredor de entrada e saída, por isso essas soluções continuariam paliativas, pois não dariam a capilaridade que toda cidade precisa de na interação com o seu entorno. E a Alça Viária não é uma ligação urbana, pois está distante demais do centro da cidade, como opção de ligação com a área de Barcarena. 

                                    Belém dispõe apenas dessa saída terrestre e pelo porte de sua Região Metropolitana (cerca de 2, 5 mi Hab), é inconcebível que não existam múltiplas saídas.  Florianópolis, que está numa ilha e que tem menos de 900 mil habitantes em sua área metropolitana, dispõe de três pontes e já se está pensando em construir um quarto acesso, que pode vir a ser até um túnel.
                           

             O VELHO PROJETO DA PONTE SOBRE A ILHA DO COMBU  - MAIOR APROXIMAÇÃO COM BARCARENA E ALTERNATIVA PARA O TRANSITO


A alternativa de aproximar Belém de Barcarena, ainda seria um antigo projeto da década de 1940, com a construção da ponte do Combu (Ilha do Combu).  No entanto, ele teria que ser revisado para adequação com as restrições ambientais, pois a ilha é uma APA-Área de Proteção Ambiental.

A maior proximidade de um centro de médio para grande porte (Belém e seu entorno metropolitano) com uma área que detém forte vocação para pólo industrial, como Barcarena, gera múltiplas possibilidades, sejam no comércio ou na prestação de serviços e até industrial. 

Essa proximidade com Barcarena aumentará, sobremaneira, as chances das empresas de Belém atenderem aos conglomerados industriais instalados e que ainda se instalarão naquela área e suas principais terceirizadas, em razão dos megainvestimentos previstos para os próximos anos. Aliás, pelos  investimentos anunciados, ali estará surgindo um dos maiores pólos industriais do Brasil.

Voltando à necessária capilaridade urbana, o município de Florianópolis(SC) possui uma população de 412.203 habitantes(2010), tendo 877.706 habitantes no núcleo de sua Região Metropolitana. Floripa (RMF) dispõe de três pontes de acesso ao continente e está discutindo se investe na quarta ponte, em metrô de superfície ou túnel submerso, tal a pressão pela mobilidade urbana.

Comparando as populações das duas cidades temos:  877 mil hab na RMF, contra cerca de 2,5 mi de hab. na Região Metropolitana de Belém (RMB).  

Portanto, a situação de Belém é insuportável e sufocante e a sua falta de mobilidade urbana constitui custo pesadíssimo, que cobra seu perverso preço no engessamento de possibilidades de desenvolvimento.  Transito é custo e pode inviabilizar as chances de uma cidade aproveitar todo o seu potencial econômico.

E esse engessamento de Belém já salta aos olhos, nos horários de pico e até fora deles, nas principais vias de escoamento da cidade e talvez isso esteja contribuindo para a retração do desenvolvimento de nossa cidade, com prejuízos irreparáveis para todos nós.




  COMPARAÇÃO COM A ATUAL ALÇA VIÁRIA


              O quadro acima mostra a comparação do projeto do Combu, com a atual opção, via Alça Viária.

Observe-se que mesmo com as soluções paliativas das duas vias expressas anunciadas, ainda assim o núcleo da cidade de Belém continuará ilhado. Por isso, há premente necessidade de se gerar outro caminho de saída e entrada que poderia ser pela retomada do Projeto Combu.


Em construção..............................


Aurelino Santos jr.