PENSAR, PENSAR
"Acho que na sociedade
actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão,
que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para
satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de
pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma".
José Saramago
Prezados(as)
Outro dia, numa das minhas frequentes incursões
em busca de livros interessantes, encontrei um dicionário de Latim, onde, em
seu prefácio, referia ao fato de, no Brasil, estar havendo um vivaz debate
sobre a posição da língua latina em nossa cultura e do papel do ensino das
línguas e literaturas clássicas na formação das novas gerações.
Essa referência à falta que o conhecimento
clássico está fazendo às nossas gerações mais recentes, remeteu-me à lembranças
de longínquas conversas, de minha primeira juventude, período em que tive a
oportunidade de conhecer pessoas especiais que hoje não mais se encontram entre
nós, mas que muito me ensinaram. Do meu professor de Latim, no curso Clássico;
de um amigo que há muito já se foi, psicólogo que era, discorria com desenvoltura
sobre o encontro que a mais avançada psicologia tinha marcado com os mitos
gregos e do fascínio em descobrir que cada uma das divindades helênicas
representava uma faceta da natureza humana.
Lembrou-me o Tavares, um engenheiro que, lá pelos idos de 1970, atribuía ao conhecimento clássico, passado em Oxford,
aos filhos de Lordes Ingleses, o sucesso com que esses jovens inexperientes
conduziram a administração das mais distantes Colônias Britânicas, pois embora
desconhecendo os hábitos e costumes das populações nativas, com o ensino
Clássico, aprendiam a conhecer a natureza humana e esta é imutável, seja num
europeu ou num aborígene.
Seguindo minhas lembranças viajei, em pensamento, ao ano de 1929, na pequena
Muaná, na Ilha de Marajó, pelos relatos de infância de minha mãe (hoje com 93
anos), que, então aos nove anos, contava-me sobre as encenações de peças
teatrais gregas e de o quanto o ensino primário, naqueles remotos tempos, no
Pará, era de uma riqueza sem paralelo nos tempos atuais.
Navegando em meu acervo, lembrei as palavras de
Giordano Bruno, o Nolano, que por 1600 D.C., diferentemente de Galileu, não
voltou atrás em suas convicções e enfrentou a masmorra e a morte, com a
dignidade própria daqueles que tiveram a grande oportunidade de conhecerem-se a
si próprios e, com isso, a essência da sua natureza humana: "O Homem é,
ao mesmo tempo, o mármore e seu próprio escultor". Lembrei-me,
também, do Imperador Romano, Juliano Augusto, o Apóstata, como, injustamente, a História Ocidental lhe titulou e que, próximo à morte,
dizia: "Por que a consciência habita um invólucro tão frágil?"
Aportei, então, na referência de Jaeger*, em
sua monumental "PAIDÉIA", no capítulo: "O lugar dos gregos na história da
educação", onde refere a palavra alemã Bildung (formação,
configuração), como a que designa do modo mais intuitivo a essência da educação
no sentido grego e platônico e que em todo lugar onde esta ideia reaparece, na
História, ela é uma herança dos Gregos e que aparece sempre que o espírito
humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e
reflete a essência da própria educação.
Finalmente, retornando a Saramago e seu
alerta por maior reflexão e filosofia, notadamente, em sua magistral obra
"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", revisitamos o Mito da
Caverna, de Platão, desta feita com um final,
ousadamente, diferenciado para dar ênfase à, inafastável, responsabilidade imputada
a todos os que, ainda, conseguindo "enxergar", dentre os que não mais
conseguem fazê-lo, de tentar "reparar", não apenas no sentido de
"notar", mas no de "consertar" ou seja, não ficar na
inação.
GIORDANO BRUNO
JULIANO AUGUSTO
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